sábado, 12 de maio de 2007
Papa canoniza 1º santo brasileiro e exalta "belo exemplo" de Frei Galvão
MISSA DE CANONIZAÇÃO Papa beija altar no início da missa em que o primeiro santo brasileiro foi consagrado Mais de 800 mil pessoas foram ao Campo de Marte para a canonização Em cerimônia celebrada pelo papa Bento 16 e presenciada por cerca de 800 mil fiéis no Campo de Marte, em São Paulo, o primeiro santo nascido em território nacional foi consagrado: Santo Antonio de Sant'Anna Galvão, novo nome pelo qual passará a ser conhecido o Frei Galvão."Declaramos e definimos como santo o beato Antônio de Sant'Anna Galvão. O inscrevemos na lista dos santos e estabelecemos que em toda a igreja ele seja devotamente honrado entre os santos", declarou o papa.Após os rituais que consagraram o santo brasileiro, como a leitura de textos litúrgicos, sessões de canto gregoriano e música ecumênica, que duraram mais de uma hora, Bento 16 pronunciou-se, enaltecendo o homenageado."Galvão era zeloso, sábio e prudente, uma característica de quem ama de verdade. A conversão dos pecadores era a grande paixão de nosso santo", disse o papa durante a cerimônia. "Sinto-me feliz porque a elevação de Frei Galvão aos altares ficará para sempre emoldurada na liturgia que hoje a Igreja nos oferece".As pessoas já se aglomeraram na porta do Campo de Marte às 23h de quinta-feira. Os portões foram abertos às 2h e, durante a madrugada, a multidão foi embalada por padres carismáticos, ala que utiliza cantos e danças para reverenciar Cristo. Foi para essas pessoas que o papa Bento 16 dirigiu um discurso austero, pedindo uma vida casta, como fez no estádio do Pacaembu no dia anterior."Que belo exemplo a seguir deixou-nos Frei Galvão. Como soam atuais para nós que vivemos numa época tão cheia de hedonismo, as palavras que aparecem na cédula de consagração de sua castidade 'tirai-me antes a vida que ofender o vosso bendito Filho, meu Senhor'. São palavras fortes, de uma alma apaixonada, que deveriam fazer parte da vida normal de cada cristão, seja ele consagrado ou não, e que despertam desejos de fidelidade a Deus, dentro e fora do matrimônio". "QUE BELO SOL", DIZ PAPA De manhã, momentos antes de deixar o Mosteiro de São Bento, o papa saudou os fiéis e festejou o dia ensolarado. "Que belo sol", disse, na sacada blindada do local em que está hospedado em São Paulo.Por volta das 9h, Bento 16 chegou ao Campo de Marte em um veículo fechado. Em seguida, entrou no papamóvel e desfilou, acenando e sorrindo, para os fiéis, por cerca de 15 minutos, até chegar ao palco para a celebração da missa.Mais tarde, após a consagração do primeiro santo brasileiro, Bento 16 manteve a simpatia exibida na visita ao país. "Alegra-me que através dos meios de comunicação minhas palavras e expressões do meu afeto possam entrar em cada casa e em cada coração. Tenham certeza: o papa vos ama. E ama porque Jesus Cristo vos ama", disse o papa, antes de iniciar a leitura de seu discurso.Bento 16, então, elogiou a "imensa caridade" de Galvão por "servir o povo sempre quando era solicitado" e convocou os presentes a renovar "com profunda humildade, nossa fé, como fazia Frei Galvão, em atitude de constante adoração".A estimativa da Polícia Militar é que havia 800 mil pessoas, enquanto a SPTuris, que participou da organização, calculou a presença de 1,2 milhão de fiéis -ambos os números abaixo da expectativa da Igreja, que esperava 1,5 milhão. Entre os que assistiram à missa, estavam nove freiras enclausuradas, que vivem atrás de grades no Mosteiro da Luz e receberam permissão para comparecer à celebração. As religiosas ficaram em área isolada, longe da imprensa.Também compareceram à cerimônia entre 300 e 400 parentes do novo santo, que vieram em dez ônibus de Guaratinguetá e ficaram em uma área reservada, assim como os deficientes e religiosos. "A vida do Brasil vai mudar com o santo brasileiro. A força do Brasil é imensa", disse Cecília Leite Galvão. Eles foram os principais contribuintes para bancar o processo de canonização do ascendente.O primeiro santo brasileiroSanto Antonio de Sant'Anna Galvão nasceu em Guaratinguetá, interior de São Paulo, em 1739, e morreu em 1822. Vivo, já era chamado de santo, mas o status oficial só chegou agora, quase dois séculos depois de sua morte."As características marcantes de Frei Galvão eram a bondade e a caridade", afirma Irmã Célia, responsável pela reunião de documentos que permitiram a santificação do brasileiro e que, nesta sexta, subiu ao palco e beijou a mão de Bento 16. DATAS DA VIDA DE SANTOANTONIO DE SANT'ANNA GALVÃO 1739 Antônio Galvão de França nasce em 1739, em Guaratinguetá (SP). 1752: Ingressa no Seminário dos Padres Jesuítas na Bahia, onde permanece até 1756. 1760: Recebe o hábito de São Francisco, no Rio de Janeiro. Pouco depois, muda-se para São Paulo 1774: Funda o Recolhimento de Nossa Senhora da Conceição, mais conhecido como Mosteiro da Luz, na capital paulista 1798: É definido pelos legisladores paulistas como "homem da paz e da caridade". 1822: Morre. É enterrado no Mosteiro da Luz Uma das grandes obras da vida do santo foi a construção do Mosteiro da Luz, entre 1774 e 1802 sob o comando de Frei Galvão. Mesmo sem conhecimentos arquitetônicos, o religioso fez o papel de projetista e engenheiro, além de atuar como mestre-de-obras e pedreiro.Frei Galvão costumava percorrer várias cidades a pé e era bastante procurado pelos doentes. Entre 1785 e 1788, em suas andanças, surgiu a inspiração para suas famosas pílulas - na verdade, pequenas tiras de papel com uma oração em latim para a Virgem Maria: "Depois do parto, Ó Virgem, permaneceste intacta: Mãe de Deus, intercede por nós!". Conta-se que o religioso teria encontrado um rapaz à beira da morte, sofrendo com cólicas renais. Em um pedaço de papel, ele escreveu a oração e pediu que o enfermo a tomasse como remédio. O jovem então expeliu um grande cálculo. Em outro caso, um senhor teria pedido socorro para a mulher, que estava com complicações no parto. Novamente, a cura passou pelo papel com a oração para a Virgem Maria.As pílulas também estão por trás dos dois milagres que levaram o religioso à beatificação e à canonização. Uma cura de 1990 rendeu a Frei Galvão o título de beato oito anos depois. Em 1999, um novo caso legitimou a canonização. Ambos os milagres, portanto, ocorridos mais de 150 anos após sua morte.*colaborou Gabriela Sylos
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